quarta-feira, 11 de junho de 2008

Como é a representação da mulher na mídia Brasileira?

As divas do universo feminino, comumente representadas em revistas voltadas a esse mesmo público, são exemplos envolventes dos quais muitas manicures, donas de casa, prostitutas, estudantes, motoristas, vendedoras, jornalistas, enfim, muitas mulheres todas profissionais de alguma forma, são instruídas a seguir os moldes da mulher Claudia, MarieClaire, Capricho entre vários outros veículos de comunicação.







Matéria : Capricho pág. 77 à 82- Guia do namoro perfeito
No Guia do namoro perfeito, a proposta da Capricho é mostrar como as meninas devem agir para conseguir um namorado e como não perdê-lo. Utilizando conceitos de Ducrot, podemos dizer que essa é a proposta da matéria segundo o seu significado literal.
As principais preocupações de uma adolescente Capricho são o namoro e o visual fashion nem sempre barato. Nas mesmas letras arredondadas e rosas do título aparece um balão que leva estampado o resultado de uma pesquisa nada científica: 58% das meninas namoram. No canto direito da página, em diagonal, a explicação de que a pesquisa foi feita no próprio site da revista por 5208 pessoas que responderam ao questionário em um período de 5 dias.
Está implícito nessa linguagem que meninas charmosas e felizes como a da capa devem possuir um namorado. Na continuidade da matéria são listados comportamentos necessários para que o namoro dê certo, além de um termômetro que presume o ciúme das leitoras. No termômetro é considerado que existe um perigo brando quando o parceiro olha as outras na rua. Esses padrões de comportamento dão dicas às jovens que ainda não tem experiência no campo amoroso, mas podemos interpretar esses mandamentos da garota capa fashion segura e bem sucedida como simples dicas? É na juventude que milhares de mulheres aprendem aos moldes da sociedade onde a felicidade está: primeiro na paquera, depois no namorado e futuramente no casamento.
Portanto o universo feminino heterosexual a partir da adolescência só respira e come pensando no ser masculino, idéia central implícita na revista. Segundo Ducrot, O locutor só assume sua responsabilidade sobre a significação literal. A responsabilidade sobre a significação implícita é do ouvinte, que a abstrai da significação literal.*
(trecho retirado do texto Do Silêncio e Satanização, de Eduardo Ferreira de Souza)

domingo, 25 de maio de 2008

Omedentou

Hoje, 25 de maio, é Dia do Trabalhador Rural mas também é o dia da indústria.

wiki :
Dia do Trabalhador Rural (Lei 4.338, de 1º-6-64, e Decreto 73.617, de 12-02-74)
Dia da Indústria (Decreto-lei 40.983, de 15-2-57, e Decreto-lei 43.769, de 25-5-58)

Sobre o filme "Shattered Glass" e a realidade

foto: luana akemi
Notícias mais interessantes do que a realidade

As pessoas esperam da imprensa grandes histórias. A vida é tediosa e notícias comuns se repetem. Por isso, o valor de uma notícia como espetáculo freqüentemente supera a sua função primária, a de informar, o que pode resultar em deturpações e fabricações de notícias. Um caso notável é o do jornalista Stephen Glass, ex-repórter da revista The New Republic, demitido por fabricar artigos. Sua situação é mostrada com fidelidade no filme Shattered Glass, dirigido por Billy Ray.
O filme, lançado em 2003, mostra a queda de Stephen em sua carreira jornalística depois da publicação de uma de suas matérias e lança uma reflexão a respeito de qual é o valor que uma notícia deve possuir. Glass era considerado um “jovem promissor” por seus colegas de trabalho e superiores, até que se resolve checar a veracidade de sua última matéria, Hack Heaven. Todas as supostas fontes e referências do jornalista vão sendo desmentidas até que a sua “história interessante” é definitivamente colocada como mentirosa e sua carreira é manchada.
Não há ideologia ou convicção política nos atos de Glass; ele os faz pela satisfação de criar grandes histórias e para ganhar reputação e admiração como jornalista. O artigo no qual o filme se centra, por exemplo, possui um valor de entretenimento maior do que de informação: mostra a história de um garoto hacker, que invade o sistema da (fictícia) empresa Jukt Micronics e é contratado pela mesma após ser descoberto. O garoto exige demandas absurdas da empresa (assinatura de revistas pornográficas, gibis raros) e os executivos se curvam. Assim como em outras matérias do mesmo jornalista, ela atrai atenção por mostrar uma história interessante e fora do comum e não por ser um assunto que interesse diretamente ao público.
As atitudes do Stephen no filme foram baseadas em fatos reais e não são muito diferentes de algumas da imprensa brasileira, que já chegou a destruir reputações utilizando falsas informações. Caso famoso é o de Ibsen Pinheiro, no qual a revista Veja trocou deliberadamente o valor das transações bancárias de Ibsen, alegando provar que Ibsen possuía mais dinheiro do que seu salário permitiria. Era um fato conhecido da revista de que os cálculos bancários estavam errados e, portanto, não havia acusação válida contra Ibsen, mas a matéria foi publicada... por ser uma boa história, que atrairia muita atenção, um “furo”. A regra se repete nos dias de hoje: foi publicado em mais de um jornal que os cartões corporativos foram utilizados para o pagamento de 20 bailarinas.
Ora, depois de todas as publicações, foi esclarecido que as “bailarinas” eram, na verdade, vasos de flores e não “moças”, como afirmou o Jornal do Brasil e alguns outros. Isso é mais do que falta de apuração ou investigação, é também um processo de “literarização” da notícia, ou seja, um desprezo pela verdade por parte dos jornalistas (o que os leva a deixar de investigar o básico, como o que realmente são as bailarinas) e valorização da notícia como entretenimento e espetáculo (como a notícia soa, com o que ela se parece, do que nós podemos rir ou nos indignar nela). Essa espécie de manipulação pode ter fins tanto pessoais, como no caso de Stephen Glass, quanto ideológicos.
O fato é que, o banco de dados dos cartões corporativos é tão rico e tão passível de interpretações hilariantes que a imprensa prefere mesmo é não cumprir seu dever com a verdade, é esse o tipo de reflexão que Shattered Glass nos propõe: a de sempre desconfiar da notícia e de suas razões, e de questionar até mesmo aquilo que nos pareça conveniente ou interessante. Pois o jornalismo, que deveria ser a busca pela verdade, pode estar a serviço de certos interesses ou da glória pessoal.